Cada profissional tem sua missão na sociedade. Trabalhar desenvolve a capacidade de pensar, de tomar decisões, de encontrar soluções, de construir projetos e de aprender a lidar com pessoas e com a realidade. É na primeira infância que muitas crianças formam a imagem do trabalho como um obstáculo à felicidade. Quando a criança pede ao pai para brincar com ela e este responde, com ar de frustração: - “Agora não, papai tem que trabalhar”. Essa criança já começa a elaborar a ideia de que o trabalho afasta as pessoas que se amam. Alguns especialistas dizem que o trabalho está para o adulto assim como o brincar está para a criança. Ou seja, a brincadeira para a criança é tão importante quanto o trabalho para o adulto. Se pais e mães pudessem avaliar o quanto é grande o "mal " de não dividir sua atenção com os filhos na infância e até mesmo na adolescência ... muito descontentamento poderia ser evitado ou superado se este adulto tivesse tido momentos de presença dos pais com qualidade de convivência. |
Infelizmente, na nossa realidade, ainda temos muitas crianças que precisam trabalhar ou cuidar dos irmãos menores e não podem estudar, nem brincar.
Quase 60% das crianças envolvidas em trabalho infantil estão
na agricultura, um dos setores considerados mais perigosos. Além disso, há
meninos e meninas a partir dos 5 anos trabalhando na atividade pastoril. Os
dados fazem parte de relatório divulgado nesta segunda-feira 25 pela
Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).
Intitulado Trabalho Infantil na Pecuária, o documento
conclui que pouco se sabe sobre o envolvimento das crianças nessa atividade, em
que a participação dos menores é comum cultural e tradicionalmente.
Embora reconheça que a participação na agricultura pode ser
um fator normal do crescimento, desde que em tarefas adequadas à idade, que não
tenham riscos para a saúde e que não interfiram no tempo necessário para
estudar e brincar, a FAO ressalta que muito do trabalho das crianças na
pecuária pode ser classificado como trabalho infantil.
“É provável que seja perigoso, que interfira na educação da
criança e que seja prejudicial à saúde e ao desenvolvimento físico, mental,
espiritual, moral ou social”, diz o texto.
O relatório, baseado em pesquisa bibliográfica e em uma
consulta a organizações e especialistas, cita “uma série de estudos de caso”
focados em países específicos que mostram que o trabalho infantil na atividade
pastoril – a mais documentada de todas as atividades infantis na agricultura –
“pode começar muito cedo, entre os 5 e os 7 anos”.
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A FAO manifesta uma “particular preocupação com o fato de
algumas crianças serem traficadas dentro do país ou para outro país em
atividades [forçadas] de pastoreio”.
As condições de trabalho das crianças que pastoreiam o gado
variam bastante, destaca o relatório. Segundo o texto, algumas delas podem
fazê-lo algumas horas por semana sem deixar de frequentar a escola, mas outras
passam dias seguidos naquela atividade, às vezes longe de casa, e sem qualquer
possibilidade de escolaridade.
“Em muitas situações, a natureza do trabalho das crianças na
pecuária dificulta a frequência da escola formal e os riscos e as condições
envolvidos tornam-no a pior forma de trabalho infantil”, ressalta.
O relatório cita como prejuízos ao desenvolvimento das
crianças ligadas à atividade os riscos de doenças relacionadas com animais,
problemas de saúde devido aos longos horários de trabalho em condições
extremas, ou ao uso de químicos, além dos fatores psicológicos associados ao
medo dos castigos dos empregadores e ao sentimento de responsabilidade com o
capital familiar.
“A redução do trabalho infantil na agricultura não é apenas
uma questão de direitos humanos, já que também contribui para promover a
verdadeira sustentabilidade do desenvolvimento rural e da segurança alimentar”,
disse o diretor-geral adjunto do Departamento de Desenvolvimento Econômico e
Social da FAO, Jomo Sundaram.
Para ele, “a crescente importância da pecuária na
agricultura significa que os esforços para reduzir o trabalho infantil devem
concentrar-se sobretudo nos fatores que conduzem a trabalhos prejudiciais ou
perigosos para as crianças e, ao mesmo tempo, devem respeitar e proteger os
meios de subsistência das famílias rurais pobres”, destacou Sundaram.
Um dos setores agrícolas de maior crescimento, a pecuária
representa 40% da economia agrícola e é uma fonte de rendimentos e de segurança
alimentar para 70% dos 880 milhões de pobres no mundo rural que vivem com menos
de um dólar por dia, ressalta a FAO.
No relatório, a organização apela à academia para que faça
mais estudos sobre essa realidade e recomenda aos governos que apertem a malha
legal para diminuir o trabalho infantil na pecuária. A FAO também pede às
associações de produtores, de patrões e de trabalhadores empenho na
sensibilização das populações e cobra das empresas e multinacionais que
garantam que não há crianças envolvidas em trabalho infantil nas suas cadeias
de abastecimento.
*Publicado originalmente em Agência Brasil.
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