domingo, 22 de março de 2015

O que não pode faltar na Educação Infantil?

Educação Infantil 0 a 3 anos

Fonte:http://revistaescola.abril.com.br 

Para que as turmas de 0 a 3 anos se desenvolvam plenamente, é preciso conhecer as características de cada faixa etária e garantir que algumas experiências essenciais façam parte do planejamento. Saiba como trabalhá-las e porque são tão importantes

Beatriz Santomauro (bsantomauro@fvc.org.br) e Luisa Andrade. Colaboraram Bianca Bibiano, Denise Pellegrini, de Curitiba, PR; Julia Browne, de Belo Horizonte, MG; Thaís Gurgel, de Sobral, CE; e Vilmar Oliveira, de São José dos Campos, SP.

                                                                                                         Foto: Diana Abreu
Foto: Diana Abreu1. Brincar

Objetivo: Embora a brincadeira seja uma atividade livre e espontânea, ela não é natural, mas uma criação da cultura. O aprendizado dela se dá por meio das interações e do convívio com os outros. Por isso, a importância de prever muito tempo e espaço para ela. "Temos a capacidade de desenvolver a imaginação - e é essa habilidade que o brincar traz", diz Zilma de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP).

Propostas de Atividades: Uma das primeiras brincadeiras do bebê é imitar os adultos: ele observa e reproduz gestos e caretas no mesmo momento em que acontecem. Com cerca de 2 anos, continua repetindo o que vê e também os gestos que guarda na memória de situações anteriores, tentando encaixá-los no contexto que acha adequado. Tão importante quanto valorizar essas imitações é propor ações físicas que possibilitam sensações e desafios motores. "É pela experimentação que a criança se depara com as novidades do espaço, sente cheiros e percebe texturas, tamanhos e formas", explica Ana Paula Yasbek, coordenadora pedagógica da Escola Espaço da Vila, em São Paulo.
Alguns brinquedos também fazem sucesso nessa fase. Os mais adequados são os de peças de montar, encaixar, jogar e empilhar, além dos que fazem barulho. É preciso ter cuidado com a segurança e só usar objetos maiores do que o tamanho da boca do bebê quando aberta.
Para um trabalho eficiente, uma boa estrutura é essencial. Isso inclui ter material suficiente para que todos consigam compartilhar e um bom espaço de criação. "Os ambientes devem ser convidativos e contextualizados com a história que se quer construir", diz Ana Paula. Uma área ao ar livre, mesmo que com poucas árvores, vira uma grande floresta. Uma sala bem cuidada, rica em cores e com variedade de brinquedos e estímulos igualmente possibilita momentos criativos, prazerosos e produtivos.

Exemplo de como organizar a sala de atividades: Em Vitória, capital capixaba, a brincadeira é parte da rotina diária da CMEI João Pedro de Aguiar. As salas das turmas de 2 anos, por exemplo, são divididas em cantos. Num deles ficam os brinquedos de madeira para montar. Noutro, bichos de pelúcia e bonecas. Num terceiro, livros. Tudo em uma altura que permita a todos pegar o que querem sem ajuda. Diariamente, a classe passa um bom tempo no pátio, em que uma área é forrada de areia e outra acomoda brinquedos de plástico, como escorregador e cavalinho de balanço. "Ali, os pequenos correm e encontram amigos de outras turmas para que tenham a oportunidade de viver novas situações", diz a coordenadora pedagógica Wanusa Lopes da Silva Zambon.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

Por que engatinhar é importante?

Alguns pais às vezes querem apressar o processo de desenvolvimento de seus filhos. Preferem que andem no lugar de engatinhar. Pode acontecer de algumas crianças pularem a etapa do engatinhar, mas isso não deve ser estimulado pelos adultos. O ritmo mais comum é que, antes de caminhar, a maioria engatinhe. E aí o incentivo de pais e educadores faz diferença porque a criança pequena se sentirá mais segura.
A partir dos seis meses de idade (e especialmente entre os oito e nove meses), a criança já pode se aventurar e ela só tem a ganhar com isso, já que se movimentará de maneira autônoma.




   Veja a importância o bebê engatinhar:


1. Ajuda a desenvolver grupos musculares importantes das mãos, dos braços, dos ombros, além de fortalecer ligamentos, necessários para o aprimoramento de habilidades motoras finas. A articulação da base do polegar, em especial, é bastante estimulada. Todos esses ganhos são importantes para o desenvolvimento da escrita e da coordenação fina.

2. A criança aperfeiçoa habilidades visuais, que envolvem a percepção espacial e de profundidade. Essas competências serão empregadas no momento de ler e escrever. Ao pular a fase de engatinhar, aumenta a probabilidade de a criança apresentar dificuldades futuras, principalmente na aquisição da leitura, escrita e cálculos.

3. É uma nova etapa do desenvolvimento neurológico. Quando uma criança começa a engatinhar, o movimento repetitivo ajuda a estimular as conexões dos neurônios, permitindo que o cérebro possa controlar processos cognitivos, como a concentração, a compreensão e a memória.

4. Vai fortalecer a coluna, o equilíbrio e aprimorar a coordenação motora geral, antes de andar. É a primeira atividade do bebê que envolve a alternância de braços e pernas, em movimentos simétricos. A coordenação entre o hemisfério esquerdo e o direito do cérebro é trabalhada, e o bebê processa a visão e o movimento ao mesmo tempo. Assim, ele se prepara melhor para ficar de pé, caminhar, correr e praticar esportes.

5. Constrói autoconfiança para tomar as primeiras decisões. Aprende quando desacelerar, ir mais rápido e quando investigar os obstáculos em seu caminho.

           E como ajudar o bebê a engatinhar?

 

Coloque o bebê de bruços ou sentado, com brinquedos à sua frente. A criança vai arrastar o corpo na direção do objeto e só depois se arriscará a engatinhar.
Coloque os brinquedos próximos à criança e vá aumentando a distância gradualmente. O bebê precisa achar que consegue chegar até o que ele deseja, para se sentir motivado.
O adulto deve se colocar à frente do bebê e chamar sua atenção, segurando ou não brinquedinhos dos quais ele goste.

domingo, 6 de abril de 2014

Agressividade e a Atividade Lúdica na Educação Infantil



UMA VISÃO PSICANALÍTICA DA AGRESSIVIDADE, 

DO BRINQUEDO E DA BRINCADEIRA  NA ESCOLA


Por Maria Audenôra das Neves Silva Martins – UERN

“As nossas escolas têm procurado fazer com que nossas crianças se recolham para dentro de si e percam a agressividade – o instinto próprio do homem corajoso, capaz de vencer o perigo que se lhe apresenta”. Neidson Rodrigues

A agressividade é um dos comportamentos mais rejeitados na escola e na sociedade.

Mas, o que é agressividade?
Qualidade do temperamento ou mecanismo de defesa do EU, que se caracteriza pelo modo destrutivo de reação. 
Há íntima ligação entre agressão e frustração.

E o que é frustração?
É uma desorganização emocional resultante do aparecimento de um obstáculo que impede o indivíduo de atingir um objetivo para o qual estava altamente motivado. Como a vida é repleta também de frustrações, uma dose em cada fase do desenvolvimento é salutar para o desenvolvimento do ego saudável. 

E o que é motivação?
É todo um processo de ativação de um organismo, iniciado por uma necessidade e que tem por alvo um objetivo, que, em suma, vem a satisfazê-la.

A criança agressiva na sala de aula, na verdade, é um deficiente afetivo que precisa do apoio de todos os educadores.

O que é um deficiente afetivo
É um indivíduo incapaz, ineficaz, ineficiente para lidar com suas subjetividades.

O que é subjetividade
É a forma particular de ser de cada ser humano – nosso comportamento; nossas emoções; nossos sentimentos; nossas singularidades. A subjetividade é a síntese singular e individual que nos identifica como pessoa. A subjetividade de cada ser é construída culturalmente, socialmente e filosoficamente. A subjetividade é a maneira de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar e fazer de cada um. Por isso é que precisamos respeitar as subjetividades do outro, para sermos respeitados. É uma troca constante nas relações sociais – se quisermos viver bem.

À luz do exposto, a agressividade é também uma construção social e cultural. 


A criança, o adulto, a professora e o aluno agressivos são deficientes afetivos. 
Precisamos tratá-los. Como? Eis a questão. Segundo abordagem inatista “pau que nasce torto, morre torto”, ou seja, a professora agressiva, o aluno agressivo não tem jeito. Bem, está na hora da escola pública redimensionar o papel da agressividade na afetividade. Até porque a agressividade na escola está também relacionada com o fazer pedagógico dos professores.
Nenhuma criança, pré-adolescente ou adolescente aguenta ficar sentado só escrevendo ou fazendo tarefas do livro. A escola pública e a sala de aula precisam ser prazerosas. A escola precisa ser alegre. 


Por que tanta auto–agressão e evasão? 


Porque a escola pública perdeu, na história, o seu espaço de construção do conhecimento. Templo do fazer e saber? Talvez um dia resgataremos este status na história! Na relação de aprendizagem o sustentáculo é o desejo. Sem o desejo de transmitir e sem o desejo de aprender não há relação de aprendizagem. Esta relação se estabelece quando se tem a coragem de compartilhar o que nós não sabemos; saber compartilhar a ignorância. Como? O professor precisa ampliar o universo simbólico dos seus alunos. A criação simbólica se faz pela via da aprendizagem, através de atividades desafiadoras para a criança. A construção do conhecimento acontece com pesquisas, descobertas, inovações, oficinas diversificadas, etc. 

Uma escola alegre e prazerosa motiva para a permanência da criança na escola e tem a tendência natural de diminuir a agressividade, tendo em vista que ela está sendo canalizada de forma lúdica através da construção coletiva do saber e fazer pedagógico.


É a canalização dessa pulsão natural (agressividade) na escola através das atividades lúdicas que tentarei expor de forma didática. E como suporte teórico, utilizarei a psicanálise para sugerir caminhos aos educadores e alunos estressados na tentativa de podermos conviver socialmente e culturalmente com essa qualidade do ser humano. Isto mesmo, a agressividade é uma qualidade e infeliz do aluno que seja forçado a perdê-la na tenra idade, pois está fadado ao fracasso. Infeliz da professora que ouse tirar a agressividade da criança, esta já é uma deficiente afetiva e precisa ser tratada. Somos todos deficientes afetivos! Tratar o aluno agressivo na escola com gritos, castigos e palavras de baixa auto-estima (você é horrível, mal comportado, não aguento mais você, não quero você na minha sala) aumenta mais a agressividade da criança.
Segundo a psicanálise, a agressividade é uma inclinação inata do homem e não pode ser tratada na escola como um distúrbio de comportamento. Para Rodrigues (1987) é o instinto próprio do homem corajoso. A sociedade e a escola negam o seu papel estruturante na dimensão afetiva do homem. No decorrer deste texto eu vou tentar explicitar melhor esta questão.


Como a escola pode canalizar a agressividade da criança? 

Existem diversos procedimentos, mas vamos realçar a importância das atividades lúdicas na escola como elemento importante. Por quê? Porque o aluno que demonstra ações agressivas na escola, está mostrando um déficit na experiência lúdica, na experiência do jogo. Está mostrando um déficit no espaço que lhe foi dado para mostrar que ela pode fazer. E uma criança a quem não é permitida mostrar suas potencialidades e habilidades terão dificuldades de fazer coisas e produzir. Restam para ela atos agressivos para chamar a atenção dos adultos. Outras questões precisam ser pontuadas antes de discutirmos essa relação do lúdico com agressividade.
A primeira é a dinâmica da pulsão agressiva, fato muito comum na sala de aula e na escola. “Ele estava quieto, de repente bateu nos coleguinhas” Rafaela estava quieta e nada fez com ele para sofrer a pancada”. “Ele estava brincando, de repente destruiu o brinquedo”. “Ela estava brincando com Júlia de repente acabou a brincadeira na pancada”. Como? Se o brinquedo e brincadeira são excelentes para canalizar a agressividade? Rasgar cadernos, quebrar lápis, riscar paredes, quebrar carteiras, dizer palavrões, etc. são fatos comuns no contexto da escola que demonstram níveis de agressividade.





Segundo aquela criança que apanhou, foi vítima do agressor também é um deficiente afetivo, pois ele (a) não reagiu. Talvez seja mais doente que a criança considerada agressiva – talvez ela já tenha perdido a pulsão agressiva. Nenhuma criança precisa ser saco de pancadas para ser considerada “boazinha”, “bem comportada” “doce de aluno”. Por isso é que todos os professores são comportamentalistas. Como gostaríamos de moldar nossos alunos. O sonho de todo professor é receber uma turma bem comportada, educada, disciplinada. Pesquisas comprovam que os professores têm um modelo de aluno – crianças aplicadas, obedientes, respeitosas, agradáveis, limpos e com bons modos. O sonho do aluno ideal, da turma ideal só existe nas teorias educacionais, na prática o nosso aluno é real.


Terceiro é o porquê da criança está calma (aparência) e de repente explodir. Como já citamos anteriormente, a agressividade está intrinsecamente relacionada com a frustração. A sociedade, a família, a escola, a professora através da repressão da pulsão agressiva, reforçada por mais e nova repressões dirigem de volta para o ego (EU/SELF), ou seja, a pulsão agressiva é introjetada e internalizada pela criança seguindo dois caminhos.



Para entendermos esses dois caminhos vamos lembrar ou esclarecer a divisão da consciência: ego, superego e id. O ego ou consciência propriamente dita representa a parte que corresponde ao conhecimento do momento presente. É a resposta às perguntas: Quem sou? O que estou fazendo? É a própria personalidade enquanto atua no momento presente. Pensar a realidade presente. Planejar a realidade futura. Proteger a si mesma – são funções do EGO. Algumas vezes, gostaríamos de agredir e temos que sorrir. Esse “sorriso” convencional é função do ego.



O superego tem a função de deixar o homem ajustado, integrado à vida social. Rege os princípios morais. É a própria personalidade enquanto age guiada por princípios (valores). Surge durante a prolongada dependência da criança de seus pais e de todo meio social. Sua função é adaptar-se, aceitar e incorporar em si as normas sociais, o princípio da moralidade, aquilo que nossa consciência chama de lei superior.
O id caracteriza-se pelo fato de suas forças dinâmicas estarem fora do controle da vontade. É à parte da consciência mais antiga e mais profunda. É carregado de impulsos egoístas, isto é, não levam em consideração os demais. Refere-se às necessidades ou impulsos básicos herdados pelo homem. Tais impulsos, segundo Freud, são de origem sexual (eros) ou de origem agressiva. Assim, o ego é dominado pelo princípio da realidade; o superego pelo da moralidade e o id pelo prazer. 




Após estes esclarecimentos vamos procurar entender como a repressão da pulsão agressiva da criança é introjetada seguindo os dois caminhos. Primeiro caminho, o ego ou a consciência propriamente dita da criança assimila uma parte da pulsão agressiva reprimida. O segundo caminho, a outra parte do ego fica contra a pulsão agressiva formando o superego. Bem, cada pulsão agressiva abandonada pela criança (forçada de forma repressiva pelos adultos) é assumida pelo superego, aumentando a agressividade deste contra o ego. Esta dose de agressividade reprimida é transferida para o ego, transformando-se em sentimento de culpa. Assim, sob a forma consciente, a pulsão agressiva está pronta para ser descarregada contra o ego na intensidade que gostaria de tê-la satisfeito, dirigindo-a a estranhos.
Explicando melhor: A criança tem a necessidade de ter uma família bem estruturada, objetivando ser feliz, pois o satisfaz como ser humano e parecendo com os demais coleguinhas. Não tem e vem a frustração. A realidade para ela é muito cruel e sente-se culpada por essa situação. Ela não consegue entender porque seu amigo tem aparentemente uma família bem estruturada e ela não. Por que não tenho, será que não mereço? Por não saber lidar com suas subjetividades e por não ter maturidade para entender a realidade, vem a frustração, a culpa que culminam na agressividade. A explicação teórica parece simples, mas na prática, no cotidiano da escola a agressividade assume outras interpretações.


Exemplos clássicos na escola:                                                                                                      

                                                                                                                                                                   
“ele está agressivo porque os pais estão se separando”;                                                                   
“ele é agressivo porque os pais são separados”;                                                                                 
“ela é agressiva porque é adotada”;                                                                                                     
“ela é agressiva porque é filha única e muito mimada”;                                                                    
“é agressivo porque vive na rua, pede esmola, passa fome, não tem família, os pais são agressivos, não têm limites, veio da favela, usa drogas, etc.”                                                           

E daí? Como educadores não podemos corrigir distorções familiares, conjugais, sociais, econômicas de nossos alunos, mas dentro do espaço escolar a criança é nossa, é o nosso bem maior. Segundo Platão, a criança é um bem público e todos somos responsáveis por ela. Além do mais, todo ser humano tem uma forma motivacional que impulsiona a busca, revendo Karl Rogers.
O ser humano vive em eterna busca. A criança de rua, da favela também busca. 
Toda criança quer ter uma família bem estruturada em todos os aspectos. 
Todos nascem querendo ser um cidadão, ter sua cidadania garantida que foi negada. Se tiverem todos esses problemas elencados pela escola, ele já tem o seu destino traçado – escola conscientemente promove o seu fracasso. Não existe maior agressividade dos adultos contra a criança do que permitirmos que elas morram de fome de comida e de educação. Essa criança só pode ser cada vez mais agressiva na escola. Se sente culpado pela separação dos pais que tanto ama, todo o tumulto da sala quase sempre é o culpado de ser o mentor.

A criança agressiva é repleta de culpa frutos das suas frustrações vivenciam, existenciais e por não saber reagir de outra forma é agressiva, pois é forma encontrada para chamar atenção dos adultos, dos professores, da escola. 

O que foi que eu fiz para estar aqui na rua pedindo esmola? 
Por que não tenho uma família? 
Por que meus pais vivem desempregados? 
Muitas crianças agressivas quando “convidadas” para saírem da sala de aula, saem protestando: “Tudo eu” e “todos na escola contra mim”. 

É por isso que a agressividade é um problema grave e angustiante em muitas escolas, pois somos deficientes afetivos para lidar com ela. 



Quarto, a auto-agressão que considero o estágio mais grave da agressividade, pois ataca a maioria das crianças e incomoda as professoras tanto quanto a minoria considerada agressiva na sala de aula. A criança se mostra indiferente à situação, mas sabe mobilizar a atenção de todos na escola. Têm atitudes de submissão, abandono, desinteresse e “preguiça”, principalmente, frente às tarefas escolares. São caladas e normalmente enganam os professores, pois muitas prestam atenção, apenas com o olhar. São inibidas, apáticas, desorganizadas, apresentam baixa auto-estima, baixo rendimento escolar. Distúrbios psicossomáticos são freqüentes, como dores de barriga e de cabeça, gastrite, enxaquecas e asma. Choram no dia de provas, sentem tonturas, faltam às aulas com freqüência, perdem a motivação para ir à escola e muitas se evadem, etc. 


A criança agressiva quer destruir o outro, já a auto-agressão ela tenta se destruir e isto é muito mais grave para os professores – eles assistem a morte passiva e silenciosa da criança que não sabe lidar com a sua agressividade. Fica evidente que a auto–agressão da criança é o quadro generalizado nas escolas públicas, mas os professores preferem essas crianças, pois normalmente são passivas na sala de aula, perturbam, mas não tumultuam o ambiente como as agressivas.
Quinto, o preconceito nos meios sociais e educacionais contra a agressividade se agrava quando é tomada como sinônimo de violência, negando assim o papel estruturante que ela tem na dimensão afetiva do indivíduo.
Resumindo todo esse discurso, a criança agressiva tem um ego frágil, a agressividade assume a forma de superego. Não consegue se deparar com o medo, a insegurança, a ansiedade, sem recorrer a uma dose exagerada de pulsão agressividade desordenada. O seu ego sendo perturbado, não permite acumular energia, ocorrendo descarga impensada do acumulado. A criança agressiva desconhece o controle da atividade muscular. Toda energia surge na defesa de seu ego frágil. Por autodefesa está sempre alerta ao ataque diante de qualquer frustração. Não confia na escola, pois é um mundo externo e é incapaz de lidar com seu mundo interno. Por autodefesa, tem a percepção aguçada para detectar qualquer hostilidade. Não aceitam regras, mesmo as combinadas pelo grande grupo.



As escolas que adotam rotinas repressoras, como deixar a criança agressiva na sala durante o recreio escrevendo as tarefas, fazendo cópias, ficar sem o recreio sentado na direção, ou na sala do “apoio pedagógico” não adianta. A criança reage de igual força em sentido contrário. Nesse clima de repressão na escola, a intranquilidade individual impede a participação. Mesmo sendo considerada uma criança inteligente na escola, o deficiente afetivo não aceita os estímulos intelectuais, pois lhe falta eficiência emocional para enfrentar as situações regulares da aprendizagem formal.
A escola precisa ajudar a criança com pulsão agressiva acumulada e desordenada. Se há dificuldade em suportar frustração, que sejam dosadas em proporções toleráveis. O prazer e o desprazer têm papel igualmente importante no desenvolvimento psíquico. A frustração está incorporada ao desenvolvimento infantil, sem o grau de frustração a cada fase/etapa do desenvolvimento, não é possível um satisfatório desenvolvimento do ego. 


A escola pode diminuir a agressividade e a auto–agressão através da atividade lúdica na sala de aula, no recreio e, em diversas atividades extracurriculares.


Experiências em escolas públicas – zona sul de Natal demonstra a viabilidade da proposta. O brincar espontâneo ou direcionado é o meio natural de relação da criança com o seu mundo interno e externo. Através do brinquedo e da brincadeira a criança agressiva faz uso de estratégias para afrontar suas dificuldades na busca do seu equilíbrio.
A atividade lúdica é catártica para a criança, ou seja, ela purifica as subjetividades quando fornece elementos favoráveis às mudanças de crianças agressivas desculpalizando o seu corpo, a sua mente. O corpo fala, através das emoções, das brincadeiras, dos gestos, das linguagens verbal e gestual.


O brincar é uma linguagem metafórica e sendo utilizada na escola canaliza a pulsão agressiva surgindo um novo espaço de vivência e convivência. 




O brincar espontâneo abriga na sua simplicidade de ação, possibilidade de expansão do indivíduo pelos caminhos do imaginário, reduzindo-o a lugares esquecidos, espaços desejados, escolhas impossíveis, até se dar conta de novas possibilidades na sua realidade.
É brincando que as crianças desenvolvem capacidades importantes como atenção, imitação, memória, criação e amadurecem competências para a vida coletiva. Destaque nesta discussão para o brincar de faz–de–conta, a fantasia e o imaginário. A fantasia é uma construção, não se pode construí-la do nada. São necessários materiais e modelos, e a escola pública, mesmo com poucos recursos pode fornecer elementos para serem trabalhados o imaginário e o real. A sucata é um excelente material para a criança estimular a sua imaginação. 

Quanto mais a criança brinca simbolicamente, mais chances ela terá de canalizar sua pulsão agressiva, jamais destruí-la, pois significaria a morte do ser pensante, atuante, histórico.

As crianças agressivas encontram em alguns materiais e brinquedos a possibilidade de liberação da sua agressividade, citarei apenas seis devido às limitações do texto didático.


Bolas – por analogia de forma representam os seios maternos, com a mãe inteira que por um lado nutre, acalanta, protege e por outro lado podendo abandonar. Sejam grandes, ameaçadoras, agressivas e esmagadoras, no contato suave podem ser identificadas pela criança como aquele que ama, a quem deseja, que teve e que perdeu.
Benefícios – a mobilidade favorece a relação espontânea, diminui distâncias, revela vínculos, mas pode servir para agressão, permitindo o anonimato que isenta de culpas.


Bambolês – Simbolicamente representam: casa, ligar de segurança, ventre, útero que contém fisicamente e mãe que contém afetivamente. Em contrapartida também é prisão que fecha tudo, que limita a liberdade.
Benefícios – Para a criança podem ser: EU mesma fechada dentro de meus limites, limitações de meus desejos, minhas inibições e proibições.


Bastões de papelão ou espuma – Simbolizam armas, fuzis ou espadas e representam uma dimensão fálica, estimulando destruição, inveja, provocação, contendo toda possibilidade de representação e luta pelo poder.
Benefícios – Para o menino: destruir o falo (pênis) do outro, do pai. Para a menina: o símbolo do poder do homem. Com isso redimensionam a dimensão fálica – descoberta e interesse pelo prazer localizado nos órgãos genitais.


Cordas – Símbolo de dominação e submissão asseguram a dominação animal a si mesmo, representam, na agressão, estrangulamento, provocação, autocastração, punição. Destroem vínculos pela perda de liberdade, amarras e dependências, aprisionam e até paralisam.
Benefícios – Simbolicamente é o cordão umbilical. São indestrutíveis, se desembaraçam fácil e projetam várias imagens É preciso cortar, para conquistar autonomia. Desejo de união e medo de perder a liberdade.


Caixas de papelão – Simbolicamente pode ser a casa que protege ou metaforicamente a mãe. Nela se habita, se penetra, se refugia, se encolhe, se retorce em posição fetal, mas ela pode acabar destruída. Melhor forma de expressão amor e ódio.
Benefícios – Um lugar aberto ou fechado, onde a criança pode encher, esvaziar e unificar. Simbolicamente pode ser um carro, um barco – depende da imaginação. Elas favorecem a necessidade básica de destruição ou desagregação, exatamente por perderem totalmente as suas formas originais ao ficarem em pedaços.


Tecidos/retalhos – representam tudo que pode envolver múltiplas transposições desde a placenta, envolvimento materno, calor afetivo até a mortalha, o enterramento, a sepultura. Além disso, pode trazer agressividade por meio de sufocamento, aprisionamento ou ate espancamento.
Benefícios – sob os panos, intimidade e proteção. Proteção do olhar do outro, do outro que julga. Elemento de cumplicidade que desculpabiliza, que esconde junto com outro, redescobrindo esse outro a quem cobre e descobre.


OBS: Dedico este texto a todas as crianças agressivas e educadores com instinto de águias, guerreiros da educação que, em suas trincheiras – sejam elas escolas públicas, universidades tomadas pela oposição – travam uma luta persistente pelas mudanças. E, nesta batalha, enfrentam não apenas a oposição dos adversários, mas também a letargia dos conformados, dos incompetentes, dos invejosos e a desconfiança dos que não conseguem aceitar a defasagem entre o desejado e o possível.                                                         “Na educação, tudo que consigo pensar sou capaz de fazer” (Audenôra)                

BIBLIOGRAFIA
BEE, Helen. O desenvolvimento dos Relacionamentos Sociais. In:_____ A criança em Desenvolvimento. 3.ed. São Paulo: Editora Harper&Row do Brasil Ltda, 1984. p. 272-299.
FIORI, Wagner Rocha. Desenvolvimento emocional. In: RAPPAPORT, Clara Regina (coord.). Psicologia do desenvolvimento. A idade pré-escolar. São Paulo: EPU, 1981. vol. 3. p. 1 – 40.
______. Desenvolvimento emocional. Psicologia do desenvolvimento. A idade escolar e a adolescência. São Paulo: EPU, 1981/1982. vol. 4. p. 1 – 37.
KUPFER, Maria Cristina. Freud e a Educação. O mestre do impossível. 3.ed. São Paulo: Editora Scipione, 2001.
RODRIGUES, Neidson. Lições de príncipes e outras lições. 10. ed. São Paulo: Cortez, 1987.
TELES, Antonio Xavier. A consciência, fonte de motivos ocultos. In: ______. Psicologia Moderna. 19 ed. São Paulo: Ática, 1980. p. 43 – 54
.


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Dicas de como economizar na volta às aulas?

Todo mundo sabe que pesquisar é essencial, mas compras em conjunto e negociação com os filhos também diminuem a conta do material.


Volta às aulas é sempre a mesma coisa: a escola manda uma lista e, ainda que a compra seja anual, na virada do semestre muitas vezes é preciso repor canetas, lápis, borrachas e outros materiais. Se tais compras são inevitáveis, o que os pais podem fazer é prestar atenção para economizar na hora de adquirir os produtos.

O terapeuta financeiro Reinaldo Domingos, autor de “Terapia Financeira” (Editora Gente), afirma que o principal a se fazer nesse momento de volta às aulas é um inventário de materiais escolares. “Os pais precisam levantar dentro de casa os materiais que ficam esquecidos, e analisar se eles podem ser reutilizados”. Outro ponto, ele ressalta, é a importância do relacionamento dos pais com outros familiares e até vizinhos. “Às vezes vizinhos e parentes podem ter materiais e livros que podem emprestar ou trocar”.

O professor e educador financeiro Mauro Calil explica que os pais devem focar na pesquisa de preços, bem como nas compras em conjunto. “Os descontos vão de 30 a 90% quando as compras são feitas em conjunto”, calcula. Tanto Calil quanto Domingos batem na tecla da educação financeira e defendem que as crianças devem saber tanto dos preços que os pais pagam em seus materiais escolares, como dos descontos obtidos.

Confira as  dicas para a economia na compra dos materiais escolares:


  •  Pesquise 



Se pudesse dar uma dica, esta seria: pesquisar, pesquisar, pesquisar, lembrando que, com a internet, a pesquisa se tornou mais refinada. Dá para conhecer lojas que nem se imagina que existem, e elas podem ter preços bem mais em conta.


  • Compre no atacado 

Lojas que vendem a atacado costumam ter preços menores que as do varejo, por isso, os especialistas indicam que os pais se juntem para comprar certos itens em um grupo grande, ou  pelo menos produtos básicos, como lápis, borrachas e canetas que crianças de quase todas as idades escolares precisam e podem ser comprados nesses lugares com quase 90% de desconto, um apontador, que custa 1 real, em compras maiores passa a custar 10 centavos.

  •  Reutilize 


No quesito uniformes, é possível fazer uma simples reforma nas camisetas e calças, que os torna possíveis de serem usados por mais um semestre ou trocar com outros pais de alunos maiores. Outra sugestão é que as crianças customizem as capas de seus cadernos, “é uma ideia bastante popular entre os adolescentes”, os fichários também podem ser econômicos, pois utilizam apenas o necessário e diminuem o peso da mochila.

  • Livros usados


Se é para economizar, tem que reaproveitar tudo que for possível, e os livros podem ser  muito mais baratos se forem trocados com outros pais, vendidos ou comprados em sebos:(sugestão : o site abaixo é seguro, já comprei várias vezes)
http://www.estantevirtual.com.br/

  •  Não ligue para personagens 


Seu filho quer a mochila, a lancheira, o caderno e o estojo do Ben 10, das princesas ou de outro astro animado da TV? É possível fazer uma negociação: compre um item do personagem favorito do seu filho, mas não a linha completa, as marcas devem ser ignoradas. Muitas vezes, a imagem da capa do caderno encarece três vezes o produto.






  • Negocie condições 


Pechinchar ainda funciona, e muito bem, devemos procurar o benefício por trás das formas de pagamento. Se for parcelar, que seja sem juros; se for à vista, tente um preço melhor.

  • Compre um mês antes 


No período de volta às aulas os preços dos materiais escolares aumentam. Os pais podem driblar este aumento simplesmente se programando para comprar os materiais um pouco antes. Todo ano tem volta às aulas. Por que, então, não comprar um mês antes?

  • Envolva as crianças nas escolhas 


A compra de materiais se torna complicada a partir do momento que as crianças mostram querer um produto – normalmente os mais caros – e os pais, outros. Reinaldo sugere sair deste impasse conversando com as crianças. “É importante que os pais mostrem para os filhos que estão economizando, e que eles serão beneficiados com isso a longo prazo”, afirma.

  • Avalie a lista 


“Algumas coisas podem ser substituídas”, diz Domingos. Calil explica que os pais devem se reunir para, assim, colocar as questões sobre a lista em voz alta nas reuniões escolares. Se existem exigências desnecessárias, elas não voltarão no ano que vem.


  •  Participe das reuniões escolares 


Mais importante que a economia na compra dos materiais é a participação dos pais nas atividades relacionadas à escola dos filhos. Mauro Calil explica que as reuniões são imprescindíveis para discutir questões importantes – e que acabam pesando no bolso, como os uniformes. “Uma prática comum das escolas é homologar apenas um fornecedor de uniformes e isso encarece muito o seu preço. Quando os pais participam de reuniões e fazem pressão para que se tenha mais de um fabricante, o preço pode cair bastante”, exemplifica o professor.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Como identificar o Transtorno Humor Bipolar em Crianças


Em crianças pré-escolares
A descrição dos familiares é a melhor fonte de informações que o profissional pode obter sobre os sintomas do THB e sua evolução nos pacientes dessa faixa etária, já que as crianças ainda não conseguem expressar claramente seus sentimentos. Além do que, os instrumentos estruturados de avaliação apropriados para essa idade são escassos e é difícil mensurar o prejuízo na vida funcional da criança. Os relatos dizem em geral respeito a comportamentos como:
  •  Isolamento social devido a seu comportamento inconstante
  • Pouca resposta à estimulação visual e verbal
  • Mudança inexplicável de comportamento
  • Queixas de dores de cabeça e estômago
  • Busca constante de novos estímulos
  • Choro frequente e sem causa aparente
  • Abandono de tarefas sem conclusão
  • Recusa de alimentos ou voracidade
  • Marcante inquietação motora
  •  Perturbação no sono
  • Agressividade
 Em crianças de 7 a 12 anos
A partir dos 07 anos de idade é que as patologias psiquiátricas, como o THB, tornam-se frequentemente percebidas em função do rendimento escolar inadequado e do comportamento típico dessas etiologias:
  • Enurese
  • Agitação motora
  • Cansaço frequente
  • Distúrbios do sono
  • Recusa a ir à escola
  • Auto e heteroagressividade
  •  Baixo controle dos impulsos
  • Problemas de relacionamento
  • Irritabilidade, raiva, mau humor, reações desproporcionais
  • Sentimento subjetivo de depressão (triste, infeliz, culpado)
  • Baixa modulação afetivo-emocional, choro imotivado
  • Os comportamentos bizarros e extravagantes, assim como a hipersexualização são muito mais evidentes na adolescência
  •  Dificuldade de concentração comprometendo o rendimento escolar
  • Dificuldade na organização da informação
  • Prejuízo na memória episódica
  • Em matemática, o desempenho do bipolar é quase sempre abaixo da média
  • Ruptura brusca na evolução e desenvolvimento normais da criança
  • Dificuldades em adquirir autonomia social
  • Apresenta altos e baixos de aproveitamento acadêmico, que decai subitamente e demora a ser recuperado devido às oscilações do humor,
O Transtorno de Humor Bipolar em crianças é uma doença psiquiátrica que exige seriedade no encaminhamento, pois, nessa faixa etária, a sua sintomatologia pode se apresentar de forma atípica. Nas crianças, surge a agressividade gratuita seguida de períodos de depressão. Nestas, o curso do Transtorno é também mais crônico do que episódico e sintomas mistos com depressão seguida de “tempestades afetivas”, são comuns. Além disso, a mudança é rápida e pode acontecer várias vezes dentro de um mesmo dia, como por exemplo: alterações bruscas de humor (de muito contente a muito irritado ou agressivo); notável troca dos seus padrões usuais de sono ou apetite; excesso de energia seguida de grande fadiga e falta de concentração. Esses são alguns sintomas que devem ser observados. 
Os diagnósticos de transtornos da saúde mental são difíceis mesmo para os especialistas, pois é alta a prevalência de comorbidades, ou seja, o aparecimento de dois transtornos simultaneamente, o que exige conhecimento, experiência e observação minuciosa do médico e da equipe envolvida, como psicólogos e psicopedagogos.
É importante salientar ainda que estes transtornos afetam seriamente o desenvolvimento e o crescimento emocional dos pacientes, sendo associados a dificuldades escolares, comportamento de alto risco (como promiscuidade sexual e abuso de substâncias), dificuldades nas relações interpessoais, tentativas de suicídio, problemas legais, múltiplas hospitalizações, etc.
Os diagnósticos devem sempre ser realizados por médicos psiquiatras ou neurologistas em conjunto com psicopedagogos, que ao diagnosticarem e acompanharem a criança, se preocupam em dar também orientações à família e à escola.
Minimizar esses transtornos só piora suas conseqüências e prejudica o paciente. Somente especialistas podem afastar e esclarecer as dúvidas e não é exagero ser cuidadoso quando se trata da vida, saúde e futuro dos nossos filhos!

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Noções de segurança para crianças pequenas







A responsabilidade é dos pais, mas algumas dicas podem tornar os filhos mais cuidadosos.

O sonho de qualquer pai é que o filho viva com segurança. Seja enquanto está dentro de casa pulando do sofá, seja quando está lidando com estranhos no mundo lá fora. A preocupação é justificada quando observamos os dados sobre a infância no Brasil. Segundo a ONG Criança Segura, os acidentes domésticos são a principal causa de morte de crianças entre 1 e 14 anos. Já as estatísticas da Associação Brasileira de Busca e Defesa a Crianças Desaparecidas mostram que são mais de 50 mil crianças e adolescentes desaparecidos no Brasil. Muitos deles sequestrados.
Não é o caso de passar a criar o filho numa redoma de vidro, mas algumas atitudes podem deixar a família mais tranquila. Mesmo sendo pequenas, as crianças conseguem assimilar algumas noções de segurança quando ensinadas da maneira correta e em uma linguagem compreensível para a idade delas. Conversamos com especialistas para descobrir as melhores dicas.

1. A responsabilidade é sua

Antes de mais nada, um alerta importante: ensinar essas noções ao filho não tira a sua responsabilidade como pai de mantê-lo seguro. Ao saber onde estão os perigos, ele poderá de fato ser mais cuidadoso, mas isso não é uma garantia contra os acidentes. “A responsabilidade pela integridade física e emocional da criança é dos pais. É um grande erro transferir isso a ela”, alerta Alessandra François, coordenadora nacional da ONG Criança Segura.

2. Como falar com a criança

A melhor maneira de ensinar noções de segurança a uma criança pequena é usar exemplos que tenham coerência com o dia a dia dela. Ao explicar, por exemplo, que ela não deve aceitar balas de um desconhecido, diga que ela poderá ter uma dor de barriga horrível, já que ele não sabe encontrar as melhores balas, como a mamãe. A ideia é informar, e não amedrontar a criança.
Foi essa a maneira escolhida pela escritora Aline Angeli, autora de O Livro das Emergências – O Que Toda Criança Esperta Precisa Saber Sobre Segurança. “No livro, a criança não é ‘ameaçada’ e é nem vítima de um mundo perigoso. Não tem lição de moral. Ela só é estimulada a ser mais esperta e inteligente do que as armadilhas montadas pelo perigo. Elas se sentem fortes, poderosas, e não assustadas”, diz Aline. “A maioria das crianças compreende a noção de que o perigo se esconde em algumas situações, e acredito que vale a pena, sim, apresentar conceitos como o de acidentes caseiros e problemas com estranhos para elas o quanto antes. É preciso treinar com os pequenos o desfecho para situações de emergência, como saber o número do telefone de casa caso se percam na rua”, continua Aline.
As explicações devem ser dadas por inteiro (“Se você cair da janela, vai se machucar, terá muitos dodóis e não poderá mais ficar com o papai e a mamãe”). Do contrário, corre-se o risco de a criança ficar curiosa sobre o desfecho e fazer exatamente o que não pode só para saber o que acontece. E dê um tempo para ela absorver a explicação. Dependendo da idade e do desenvolvimento, o pequeno precisará de mais conversas. Como tudo o que se relaciona à educação infantil, o segredo é a repetição. Explique muitas vezes, e sempre que for necessário. Não será da primeira vez que a criança entenderá e agirá como você quer.
Quando algo ocorrer, se ela realmente cair do sofá ou acompanhar outra pessoa até a lanchonete sem avisá-la, não grite, não berre. Converse. A criança tem de sentir que há uma parceria entre vocês. “Se ficar com medo e perder a confiança nos pais, ela nunca mais vai contar o que fez. Tem de haver uma cumplicidade para que os filhos falem sobre o que aconteceu”, explica Glauce Assunção, psicóloga e neuropsicóloga do Hospital São Camilo/Santana, em São Paulo. Equilibre a bronca para manter o canal de comunicação aberto.

3. Como lidar com pessoas estranhas

Não se engane. Mesmo crianças que costumam “estranhar” quem não conhecem vão seguir um desconhecido se ele oferecer um brinquedo ou um doce. Crianças são crianças! E tendem a achar que adultos são sinônimos de segurança. Os pais precisam explicar, de forma equilibrada, que nem todo mundo é legal, que algumas pessoas são “bobas”, podem bater, deixar a criança sem comida, roubar seus brinquedos e por aí vai. Procure ser o mais claro possível. Não fale em bicho-papão e homem-do-saco. Diga que se trata de um homem ou mulher ruins que podem levá-la para longe da mamãe. Por isso, não se deve aceitar nada de alguém que não se conhece e muito menos acompanhar essa pessoa a algum lugar. E, mesmo em situações nas quais é a mãe de um amiguinho ou uma tia que convida para sair, é necessário que ele avise a mamãe ou o papai. Nesses casos, é claro que a intenção do outro adulto geralmente é boa: ajudar e distrair a criança em determinadas situações. Mas você deve sempre saber onde e com quem seu filho está. Não é necessário incutir medo na criança, mas ela deve saber que não é bom sair sem avisar os pais.
Na lista das explicações a respeito do contato com pessoas estranhas, entra também um alerta sobre ser tocado por elas. O assunto é bem delicado, mas necessário. Vale mostrar que um carinho na cabeça é aceitável, mas que, no restante do corpo, é melhor que apenas papai e mamãe tenham acesso. Fale isso de forma tranquila, do mesmo modo que explica sobre o perigo de dedos na tomada. Crianças pequenas não têm malícia e vão encarar a explicação de forma mais prática do que você imagina.

Oriente seu filho para gritar bem alto se um estranho tentar levá-lo à força. A melhor frase para usar é “Esse não é o meu pai, socorro!”. Ele deve fazer isso mesmo que o tal adulto peça para que fique quietinho. É importante que os pais sempre tenham a confiança da criança para ensinar que, se alguém ameaçá-la dizendo “não conte isso para os seus pais”, ela faça exatamente o contrário e nunca guarde segredos.

4. O que fazer quando se perder

Perder uma criança em locais públicos é muito mais comum do que se imagina. Elas correm para todos os lados, se confundem com a multidão. Um momento de distração e você a perde de vista. Não adianta ficar ameaçando o pequeno a nunca mais sair de casa caso não pare quieto. O melhor é prevenir. A partir de 3 anos de idade, dependendo do desenvolvimento de seu filho, ele já conseguirá decorar o número do telefone de casa. Treine bastante. Ele vai adorar e se sentir importante. Antes disso, crianças devem sair sempre com um cartãozinho com o nome e telefone dos pais. Mostre que o cartão estará no bolso da roupa e, caso ela se perca, deve mostrá-lo a alguém. Mas quem? Aí está o segredo. Não é qualquer pessoa. Sempre oriente seu filho a procurar: a mãe ou pai de outra criança, um guarda/policial/segurança (é fácil para ela identificar o uniforme) ou alguém que trabalhe dentro de uma loja ou restaurante – de preferência no caixa para não ter erro. Diga que essas pessoas poderão ajudá-la a encontrar você novamente. Também é importante pedir que ela não saia da área onde se perdeu, pois você estará procurando por ali.
Caso se perca no shopping, combine que ninguém saíra do local. Se possível, ela não deve nem andar pelas escadas e continuar no mesmo andar, assim será mais fácil encontrá-la. Aqui valem as mesmas regras sobre pedir ajuda. Explique, por exemplo, que ela pode entrar na loja de brinquedo (as mais conhecidas das crianças) e conversar com uma vendedora. Outra dica bacana, dependendo da capacidade de entendimento da criança, é combinar um local ao qual ela deve ir caso se perca. Pode ser sua loja de fast-food preferida ou aquela doceria onde existe um sorvete delicioso – são informações visuais que a criança é capaz de guardar por associação.
Na rua, vale ressaltar o perigo dos carros e orientar para que fique na calçada. Ou, melhor ainda, que entre em um local como uma loja, restaurante, padaria, prédio, onde ficará mais segura e poderá pedir auxílio. Já na praia, o melhor é explicar o perigo de tentar entrar na água caso se veja sozinha. Não é ali que ela deve procurar os pais. Fale que, apesar de bonito, o mar pode ser bem chato com as crianças, pois pode tentar arrastá-las para o fundo e fazer muitos dodóis. Avise que isso acontece também com quem sabe nadar. Por isso, ele deve ficar na areia, perto do lugar onde viu os pais pela última vez. E deve procurar ajuda com outras famílias que estiverem por perto. Ou, se a praia tiver pontos de salva-vidas e informações, geralmente sinalizados com bandeiras bem vistosas, ensine-a a ir até lá. Em hipótese nenhuma ela deve acompanhar estranhos que não sejam o pai ou a mãe de outra criança ou que não estiverem uniformizados.
Finalize as explicações mostrando que o melhor mesmo é ficar sempre ao lado dos pais para nada disso acontecer e estragar o passeio. E, caso a criança se perca, quando achá-la, segure a ansiedade, dê bronca, mas não grite. Respire, mostre o quanto ficou preocupado e, caso ela tenha seguido algumas das suas orientações, elogie o seu desempenho. Mas deixe claro que aquilo foi ruim e não deve acontecer novamente

5. Cuidados que elas devem ter na rua

Perder-se na multidão enquanto anda na rua não é o único problema que pode ocorrer com crianças. Infelizmente, os atropelamentos são a segunda causa de morte infantil no Brasil, segundo a ONG Criança Segura. A explicação é simples: até os 10 anos, o pequeno não tem noção de tempo nem de espaço e não desenvolveu a visão periférica. Fica confuso. Quando vê um carro e um caminhão vindo em sua direção, por exemplo, sempre achará que o último, em razão do tamanho, está mais perto. Mesmo que o carro esteja mais rápido. Ela é incapaz de planejar o ato de atravessar uma rua, que exige observar a calçada lá na frente, ter noção de quanto tempo demora alcançá-la e, ao mesmo tempo, calcular a distância e a velocidade dos carros, muitas vezes vindos de sentidos opostos. Complicado, né? Ela vai ter de crescer e praticar muito para fazer tudo isso sozinha. Até lá, só deve andar na rua acompanhada! E de mãos dadas com o adulto, que deve segurá-la de preferência pelo pulso – mais difícil de escorregar caso ela resolva sair correndo. Com frequência, os pequenos respeitam os adultos até a metade da rua e, depois, achando que não vem mais nenhum carro, soltam a mão e atravessam o restante correndo sozinhos. Não deixe que seu filho se acostume a fazer isso.
Hoje em dia, as calçadas também andam perigosas. Quase todo comércio tem estacionamento na frente e os portões das garagens de prédios aumentam a cada dia. Carros entram e saem a todo momento. Por isso, a mão dada também vale para a calçada.

6. Como se comportar em parques e playgrounds


Os perigos aqui são dois. Primeiro, é bom a criança ter a noção de que brinquedos quebrados, escorregadores com pontas soltas e trepa-trepa faltando partes podem machucar. E isso vai doer muito. A responsabilidade de verificar o estado de manutenção do parque é dos pais, mas a criança pode ajudar avisando quando notar algum problema. Mostre também que cada brinquedo funciona de um jeito, e será legal se isso for respeitado. Por isso, tentar pular do escorregar ou escorregar no trepa-trepa pode doer e acabar com a brincadeira. A ideia não é cercear a criança, mas orientá-la e diminuir o risco de acidentes.
Outro assunto importante, principalmente quando se trata de playgrounds de prédios, é você acompanhar de perto o que está acontecendo. O ideal é nunca deixar a criança sozinha nesses lugares, mesmo que tenha um grupinho de mães por ali, já que nem sempre é possível prever quando elas sairão do lugar. Explique para seu filho que, caso você não esteja por perto, ele não deve sair do playground. Não pode sair do prédio – isso pode ser combinado com o porteiro, mas lembrando que ele não é responsável por tomar conta da criança – e não deve ir ao apartamento de outra pessoa sem avisar você. Explique que ele também não gostaria se você saísse e não avisasse nada. Quer ir à casa do amiguinho? Interfone para os pais e pergunte se pode. Ele tem de fazer isso mesmo que os pais do amigo digam que está tudo bem.

7. As armadilhas dentro de casa

É impressionante como uma casa pode ser perigosa para uma criança pequena. Há móveis altos, cantos de mesa, tomadas, acessórios de cozinha, produtos de limpeza, remédios, pisos escorregadios ou muito ásperos, portas pesadas, janelas sem rede, fornos quentes, vasos sanitários, tapetes que escorregam... A lista não acaba. O jeito é ir mostrando como cada coisa, se usada da forma errada, pode causar dodói e impedir que a criança possa brincar durante um tempo. E explique tudo, com começo, meio e fim.
Dependendo da idade do seu filho, não adianta, por exemplo, simplesmente guardar os remédios em lugares altos. Ele ficará curioso e arrastará uma cadeira para alcançar. Diga que, à medida que ele for crescendo, aprenderá a lidar melhor com tudo aquilo e os riscos de perigo irão diminuir – mas não acabar. Aproveite seus próprios acidentes, como um corte na hora de picar legumes, uma queimadura ao tirar o bolo do forno e até um tropeço, para exemplificar que aquilo pode doer e não é legal. Nada disso fará a criança se esquecer do quanto é gostoso pular do sofá ou xeretar na gaveta dos acessórios de cozinha. Afinal, são crianças e você é quem tem de ficar de olho. Mas, com o tempo e muita explicação, elas podem ficar um pouco mais cuidadosas.
Uma ótima ideia, quando falamos de segurança em casa, é ensinar o número de telefone da polícia para a criança. O 190 é um número fácil de decorar e achar no teclado. Explique que se trata de algo muito sério, um telefone especial que não deve ser usado à toa. Mas tem de ser discado se: um adulto pedir, mamãe, papai ou quem estiver cuidando dele desmaiar, pegar fogo em algum lugar, um desconhecido tentar entrar na casa. Se conseguir dizer o endereço para quem atender, melhor ainda. Acredite: crianças e adultos já foram salvos por essa pequena atitude.
Artigo original: bebe.com.br